segunda-feira, 13 de junho de 2011



então, hoje é assim

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

longe




Longe. Chegas perto, encostas o meu queixo ao teu peito. Longe. Aproximas o nada ao tudo. Perto. Afastas para o longe, tudo o que atormenta o ontem e o amanhã. Hoje, vives nele, perto ou longe, mas hoje...aproxima-te.

domingo, 12 de setembro de 2010

Desabafo VII - Insónia


O calor percorre-me a minha pele gélida e húmida pela tua ausência. Hoje sinto o teu brando respirar a levar-me os cabelos, o teu toque a cerrar-me as pesadas pálpebras dos olhos, que rapidamente se encarregam de mergulhar em leves sonos em que todo o enredo se resume ao teu brilho efémero. Não sei bem como anda a minha cabeça, muito menos quanta carga do meu físico se sumiu com a amargura em que os dias se tornaram quando o teu sorriso se evaporou entre um buraco negro sugador de vidas. Tento alargar a distância que vai da minha alma à tua, fujo para novas culturas, mas nenhuma delas me ensina a capacidade (poderá ser uma virtude?) de esquecer memórias que se transformam em pequenos frames anteriores à acção acutal. Não sei sequer se te amo ou se o teu silêncio arrancou as raízes desse sentimento instável do meu peito. Mas de todas as dúvidas que enchem o pouco de alma que me resta, uma certeza de viver me aquece os vasos em que o meu sangue corre. A insónia é a alma quente adormecida, onde o frio do nosso corpo nos congela a mente. Tornamo-nos em blocos de gelo pesados pelos vazios que nos preenchem, mas na realidade a falta de sono é o único elemento que ocupa os cortes entre a luz e a escuridão, entre a tua ausência e a tua presença...

terça-feira, 31 de agosto de 2010

if i was a vampire...



auto-retrato a aguarela

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O meu grande problema é partir em busca do desconhecido quando eu própria não me conheço




Um dia sai de casa com a mochila às costas, decidida em arrastar a minha alma comigo (ou o pouco que me restava dela...). Viajei até parar aqui, nestas paisagens de montanhas que crescem no céu limpo e sufocante, onde a única brisa que refresca a pele suada é o teu inexistente sussurar. Umas horas opto como fundo de viagem o silêncio das aves e dos insectos, ou então o som dos riachos que desaguam nas pedras ásperas e tiranas. Deixei criar em mim uma forte vontade de sentir as texturas da natureza, de permitir que o meu corpo caia sobre a relva dura e doirada pelo sol, de me sentar nos troncos robustos e irregulares que se precipitam no meio do meu caminho. Mergulho as pernas no rio do Mitó, algueres nestes montes cujo acesso é restrito a viaturas, com a intenção de atenuar as feridas e pisaduras duma caminhada que nem eu sei qual o seu destino, se a vida ou a morte, mas isso pouco importa agora (eu quero é viver)... Escrevo nestas folhas algo de instântaneo, sem reescrever ou aperfeiçoar as palavras que os dedos desenham duma forma natural e imperfeita. O importante agora é fazer com que este momento perdure, seja através das palavras de alguém demente como eu, quer nos pequenos desenhos que se despem de cor no meu caderno. Não é que a memória seja fraca e que se esqueça do cheiro a pinheiro e oliveira, mas o que eu estou sentindo agora não é o mesmo do que sentirei amanhã. Gosto das memórias, tanto que registo palavras que me tocaram neste mesmo caderno onde escrevo. Algumas dessas palavras fazem de mim alguém com características próprias na literatura e na arte, com a mente queimada pelas dúvidas filosóficas e com resultados académicos demasiado elevados para quem leva um estilo de vida irresponsável, desorganizado e degradante. Debato-me com estas opiniões, e quanto mais as leio menos sei quem sou. O meu grande problema é partir em busca do desconhecido quando eu própria não me conheço, e o resultado é sair daqui mais perdida do que o que cheguei, mais débil mental do que o já era... Procuro na mochila alguma substância que me retire a alma do corpo, para que o pensamento morra com a inalação de algo natural que é proíbido pelo governo... Pego agora nos papéis e num pedaço de cartão, e páro de escrever porque mãos só tenho duas, embora a força de viver seja incontável...

Até à próxima ausência,

natacha

terça-feira, 22 de junho de 2010

Desabafo VI - Quero-te


Quero-te. Estou farta de agarrar o vazio do ar cada vez que anseio a tua presença. Tudo é tão frio sem o teu abraço morno, tudo é tão indefinido sem a forma curvilínia dos teus lábios. Levanto-me, deito-me, sento-me. Não durmo. Levaste-me o sono, a alma, o meu ser empolgante no meio das avenidas desta cidade. Sou cega e surda, devoraste-me os sentidos. Sinto-me habitante de um mundo criado no negrume da minha incapacidade visual, onde todos os sons não são sons, mas memórias dos tempos em que escutava as pessoas nas esplanadas e os seus passos na rua. Não estou viva, nem morta... e tu ainda és vivo. Porquê escolheres ser um vivo morto quando podes ser um morto com vida?

domingo, 13 de junho de 2010

Para toda a Comunidade (e não só) da Escola Artística de Soares dos Reis:

Hoje, novamente, acordo revoltada com diversas circunstâncias que ocorrem sistematicamente no estabelecimento de ensino em que frequento. Tal local é um bom exemplo de certas mentalidades cultivadas já na adolescência, que irão tornar Portugal em algo pior, relativamente ao estado actual deste. É óbvio que não irei falar na totalidade dos alunos, uma vez que não pretendo julgar ninguém por uma minoria (ou será maioria?), dado que acredito nas grandes competências artísticas, e não só, dos alunos desta comunidade da Escola Artística de Soares dos Reis. No entanto, é necessário alertar certas atitudes e acções não morais de certos alunos que estão a tornar esta escola épica num estabelecimento completamente banal em que os alunos mergulham num mundo de ilusões, aparências e falsidades. Não pretendo fazer moral ao dizer o que é certo e errado, apenas desejo questionar-vos acerca do que é pior ou melhor para a Soares dos Reis, sendo que o meu grande objectivo é ajudar-vos a reflectir sobre uma nova geração que se integrou na escola, tentado encontrar novas soluções para que possamos manter os valores históricos da Soares dos Reis e para que esta não se evapore em pleno século XXI.
Reconheço a minha curta frequência na escola e o facto de não ser a melhor pessoa para falar sobre este assunto. Não obstante, estou aqui a tentar comunicar-vos o que num ano me chegou para dar conta da existência de uma maré de determinados alunos focados nas aparências. Especificamente, uma grande parte destes procurou a Escola Artística pelo seu bom ambiente e extenso currículo e prestígio na área das artes, não porque deseja desenvolver as suas competências artísticas, mas porque se considere que actualmente frequentar uma escola de artes se trata de algo “cool”. Aqui começa todo o problema. Estes alunos não têm amor à arte, logo nunca irão conseguir desenvolver a sua veia artística, isto é, se chegarem a ter uma... Então começam os comentários negativos e adjectivos como “secante” a qualificar a visita a exposições, museus e obras arquitectónicas com grande valor na História da Arte. CHIÇA, mas quem vos mandou vir para cá? Seus supostos amantes de Arte e bem entendidos em tal, quem vos manda vir para cá se acham as aulas uma seca e ficam cá fora no portão a pastar a toura? Se desejam ser sociais dessa forma, o recinto escolar é público e não é necessário ocupar vagas que mereciam ser preenchidas por pessoas que valorizem realmente o facto de frequentar uma das melhores escolas de arte a nível europeu. Daí que alerto o modo de selecção dos alunos. Sei que actualmente é a nota de Educação Visual e Educação Tecnológica do 9ºano que determina a entrada ou não entrada na Soares dos Reis. Mas será o suficiente? Conheço individualidades que nessa nota numa escala de 1 a 5 atingiram o 5, sabe se lá porque, e actualmente apresentam média negativa, não só a desenho, como também a outras disciplinas. Contrariamente,também conheço pessoas com imensas competências artísticas que não conseguiram entrar na escola dado que em vez de E.V. ou E.T. tiveram outra disciplina. Em suma, seria uma boa ideia pensar em realizar uma espécie de prova de aptidão para os alunos que desejam ingressar neste estabelecimento de ensino, de forma a que a Soares dos Reis ficasse a ganhar com os seus alunos, e estes também com uma oportunidade para trabalhar naquilo que realmente lhes faz palpitar os corações: A ARTE!
A verdade é que com a inexistência desta prova, a escola conta coma presença de alunos que fingem ser algo que na realidade não o são, tentando se integrar numa escola através de vícios e uma nova forma de vestir dita mais artística. Pois bem, lamento desiludir-vos mas é o nosso interior responsável pela criação de qualquer artefacto, e não o facto de nos vestirmos de uma forma mais artística que nos vai conceder melhores competências.
Terminando a minha reflexão, sublinho a ideia de uma nova selecção dos alunos para que nos tornemos numa comunidade mais justa e unida, que embora com metas diferentes, todas elas partilham o mesmo caminho: a Escola Artística de Soares dos Reis.

sábado, 5 de junho de 2010

Desabafo V - O que é da tua Alma?




Tenho saudades tuas, volta... Regressa na próxima onda que virá, na próxima gota de chuva que me cair na face. Continuo sentada à beira-mar à espera que aqueças a minha pele gélida pela tua ausência. Aguardo que me retires o sabor salgado dos meus lábios, e que tudo por magia se torne novamente estranho,o teu olhar desconhecido ao meu, o teu andar perdido ao lado do meu. Se o tempo voltasse atrás, mudaríamos tantas coisas. Mas a piada da vida é essa, o seu sentido irreversível. Tu perdes quem te ama, há quem perca aquele que ama... Sentes amor nos braços dela? Se tivesses coragem para pensar nisso, talvez perdesses o medo do verbo amar e lhe largasses a mão. Sabe-se lá se um dia venhas sentir falta de ser amado, mas isso foste tu que escolheste, um beijo sem sabor, banal, morto...que mais te arrefece do que te aquece. O que é da tua alma? O que é do teu ser empolgante? O que é feito de ti? Nem o sol te descobre, que pele morta a tua...

terça-feira, 1 de junho de 2010

Desabafo IV - Qual segredo?

Como tanto pouco tempo passou, também assim os teus sentimentos se apagaram nos rasto das nuvens (ou será que nunca se acenderam?). Deixo-me levar pela miragem de te ver com alguém sem ser um corpo com os meus cabelos ruivos. Trata-se que já não é apenas uma miragem, que o teu sabor pertence mesmo a outra identidade. Nada posso fazer ao rumo que decidiste levar, mas assim te digo: não há ninguém neste mundo que te ame como eu, assim como não haverá outra mente disposta a aceitar os teus passos inocentes, bem como o teu ser disperso e livre. O que tentas manter em segredo, já eu descobri na tua íris, que irónico, nunca mais me olhaste na cara... Talvez também quem tu me mostraste ser era algo que não eras na realidade...

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Desabafo III - A Tua Ausência Carece de Palavras



Poderia ser a força, a resistência, capacidades intrínsecas em todos os seres humanos. Poderia eu assim ser, algum forte à beira mar, levando com as águas salgadas sempre que estas escorressem pelas minhas pupilas rochosas. Como seria tudo mais fácil se a tua ausência carece de silêncio, ou então se o teu silêncio se enchecesse de presença. Tenho saudades da ingenuidade da tua íris dourada, preciso de chorar acolhida no teu abraço, para depois poder morrer mais uma vez na paixão transmundal que largavas em mim. No entanto, perco tempo a divagar acerca de como as coisas poderiam ser fáceis, quando sabemos que o complicado não se facilita. Surge sempre uma voz ao fundo da rua que nos faz andar, existe sempre um letreiro que nos indica um caminho, e este uma saída… para o vazio que deixaste dentro do nada que em mim existia. Amo-te, odeio o modo como me abandonas nesta vida fria.

texto e fotografia por Natacha Batista

terça-feira, 18 de maio de 2010

Desabafo II - O Tudo e o Nada



Com a tua presença os dias mingavam, todos os segundos vividos ao teu lado se dissipavam com uma velocidade fogosa, em que o seu único lastro era apenas a sensação de devaneio que largavas em mim. Foste embora – mais uma vez – e os dias agora – mais uma vez - são um lastro de luz intensa que se atrasa em apagar, tal e qual como o brilho inocente que os teus olhos testemunhavam. Tornaste-te no vazio da minha consciência, pois sempre que me tento sentir no vazio da minha mente, apenas a tua imagem me ocupa o negro da alma. Sinto-me um estranho, num corpo que não é o meu. Mas tudo isto é estranho sem o calor que me proporcionavas cada vez que os teus braços desenhavam uma elipse em volta da minha cintura. Não reconheço o toque da minha pele, o meu aroma, nem sequer o meu andar desorientado pelas ruas desta cidade. O silêncio faz me pensar em ti, as vozes despertam o meu desejo por ti. A luz relembra-me o teu calor, o escuro o teu sabor. Não entendo como te tornaste no meu tudo e no meu nada, no amor e no ódio, em todos os sentimentos e emoções opostos e em simultâneo. Adormeço com a esperança que o meu pensamento se desligue de ti. Mas mais uma vez tu mergulhas nos meus sonhos, e é apenas mais uma noite em que prefiro não dormir…

fotografia e texto: Natacha Batista

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Desabafo I - O amor devorou-me a alma



Caminho pelas ruas de calçadas antigas, que por acaso estão como as deixei no dia anterior, enquanto que as lágrimas traçam outro caminho pelo o meu rosto. Poderia a felicidade ser tão irreversível quanto isto, não seria bom que este sentimento fosse uma peça constante como o azul que pinta o céu? Seria, mas talvez assim não lhe concedêssemos a veracidade do seu valor. A felicidade é tão valiosa pelo simples facto de ser rara e momentânea, e quando esta termina, chegamos à conclusão que a chama do presente deve ser aproveitada até que a brisa do fim da noite a transforme em meras cinzas. Cinzas que metaforicamente representam as memórias que a nossa mente guarda numa espécie de caixa sem tampa inalcançável, pois muitas das vezes quando a queremos alcançar para incendiar todas as lembranças, ditas indesejáveis, esta se dissipa no amargo da alma humana. Talvez seja uma prova que todos os momentos localizados no passado façam parte do nosso presente, pois todos os segundos que presenciamos contribuem para a concepção do nosso ser, daí que seja impossível desligarmo-nos do passado, por muito mau que as suas experiências possam ter sido.
E se o passado não pode ser esquecido, é possível respirar brandamente num presente em que as consequências deste nos transformaram o sono em insónia, a fome em sede de sangue e a vontade de viver numa força enfraquecida de vontade? Sim, é possível, pois por muito mais que um ser possa estar morto interiormente e com uma alma devorada pelo verbo amar, existe sempre um mundo exterior que nos puxa para a vida.

fotografia e texto por Natacha Batista

terça-feira, 27 de abril de 2010

eco do silêncio




O mistério esconde-se atrás das cortinas de linho que se afundam no negrume impenetrável. Será esse negrume a sombra do passado que lasca a madeira? Se sim, esse passado é pesado, doloroso e foi preso para que mais ninguém pudesse sentir a sua dor descendo pelas veias, como um intenso veneno que nos devora o pouco de alma que nos resta. Então este foi esquecido na escuridão do vazio onde os ecos do silêncio quebram os vidros que o impedem alcançar a melancólica rua. Apesar dos cacos de vidro que caem no chão, o passado não consegue escapar daquela casa. As correntes que o tempo cedeu assim o impedem, pois não há melhor cura para um passado sofrido do que o passar nostálgico dos ponteiros do relógio.

domingo, 25 de abril de 2010

rota da liberdade



Desejava possuir liberdade suficiente para rasgar esse céu azul profundo, tal e qual como a rota que o pássaro traça nas nuvens. Não se trata do facto de possuir ou não possuir asas para tal, mas sim da existência (ou inexistência) de limites que nos impedem de voar (ou que nos permitem a tal). Diria que ser livre é muito mais do que fazer o que nos apetece. Ser livre é como um desejo vital pelo qual o ser humano constantemente aspira, mas que poucos o conseguem alcançar (isto é, se a liberdade chegar mesmo a existir). E se esta existir, não significa que os limites evaporem, todavia dentro dessas normas existirá sempre livre arbítrio para realizarmos as nossas próprias opções. Também no amor existe liberdade para amarmos quem amamos, mesmo que essa escolha não tenha sido pensada nem propositada, mas ao podermos amar aquela pessoa, essa permissão já se torna numa consequência da liberdade. Além disso, eu sempre disse ter asas para voar, mas eu quero voar contigo…

terça-feira, 20 de abril de 2010

bem-te-quer




No meio de tantas flores, no meio de todas as pétalas, haverá sempre a tua pétala, existirá sempre o teu bem-te-quer. Existirá sempre alguém disposto a amar-te, a querer-te. Mas essa pétala, esse bem-te-quer, não se procura. Não está no jardim em frente à tua casa nem no jarro que a nossa mãe têm no parapeito na janela. Pode estar perto, longe... muito longe. Ou então pode ser a flor que menos esperavas, a que o cheiro menos te seduzia. E quando a encontrares, pensa que essa pode não ser realmente o teu bem-te-quer, talvez um dia ao acordares o vento pode tê-la levado, ou simplesmente essa tenha murchado por falta de amor. Mas não desistas, quando encontrares o teu verdadeiro bem-te-quer, será o teu bem-te-quer para sempre.

quinta-feira, 15 de abril de 2010



hoje sinto-me como uma camisola num estendal

sábado, 10 de abril de 2010

Vazio Confuso



Já não sei escrever. A inspiração que me delineava as curvas das letras que ocupavam as leves folhas em branco era apenas fruto do meu amor por ti. Já não te amo, mas também já não sei quem sou. E será que alguma vez soube? Quero o vento e a sua virtude de alastrar consigo todos os elementos leves que vagueiam na rua. Que leve também agora o meu corpo, cheio de vazio, morto de vida. Quero ser a última folha de Outono no chão, terminando um ciclo vicioso. E depois disto tudo, quero renascer. Quero ser o primeiro casulo a desabrochar nesta Primavera. Cansei de mágoas, choros, desesperos, depressões...de ti. Morreste na minha mente, mataste-me a inspiração, pois talento nunca tive. Sempre fui isto: um baralho de folhas em branco, um vazio confuso. E como é que um vazio pode ser confuso? Da mesma forma como não saber quem sou me devora o pouco de alma que me resta.

2008

sexta-feira, 26 de março de 2010

Adeus




Adeus.
A pronúncia desta palavra sempre me sufocou os sentidos cada vez que me lembro do seu eco num quarto sem paredes, janelas…mas eu não me sentia presa. Era escrava da tua ausência, porque queria, porque gostava de viver debaixo do teu olhar, ouvir as tuas ordens e submeter-me ao teu respirar brando no meu queixo. O teu beijo sabia a sangue, como se ao tocar nos teus lábios me matasses de tanto desejo, como se toda a circulação sanguínea se concentrasse no calor do teu sabor. Estou morta, nua, e ninguém se preocupa com este cadáver à solta nas avenidas. Ninguém se apercebe do sangue que escorre pelos golpes por ti feitos, ninguém dá conta da palidez que assombra o meu rosto cavernoso, ninguém repara no vazio que me enlouqueceu. Ninguém vê, cheira, ouve, saboreia, sente a dor ardente que me corrói o peito em carne viva… E digo eu que o morto que perdeu os sentidos sou eu, quando ninguém consegue usufruir deles para se aperceber da loucura que me levou à cova. Não estareis também morto? O que é vida afinal? Quem nos disse a nós que a vida é isto? Não será isto a morte, não será isto uma preparação para a vida? É que afinal de tudo, eu sinto-me morta cada vez que inspiro e nem sequer desejei morrer, simplesmente já nasci sem alma… e o que é a alma afinal?

janeiro de 2010

domingo, 14 de março de 2010

Eclipse



Hoje sou sugadora de sangue. Hoje quero morder-te o pescoço, quero matar-te. Hoje eu não sou vampira mas sou uma mortal apavorada pelo amor, por esse cancro que nos corrói a alma de uma forma lenta e dolorosa, como se nos queimassem os olhos num fogo infernal. Hoje quero me livrar de ti, antes que este amor me tire a vida. Desejo morrer muito mais que matar-te, mas eu já estou morta desde o dia em que te foste embora. Levaste-me a alma, deixaste-me o corpo apagado e mole, sem brilho, estupefacto no meio destas avenidas de merda repletas de gente sem personalidade. Quero que morras comigo, que me envenenes as veias com o teu sangue negro e mortífero. Talvez assim sinta melhor a tua acidez, talvez esta me corroa o pouco de alma que me resta, se é que ainda resta alguma (…). A tua não presença torna-me num ser escuro e macabro, sarcástico e masoquista. Olha para mim, vês a noite escura que trouxeste? Tornaste-te no meu eclipse e eu na tua lua nova, foi este negrume que despertou a paixão? Agora morreremos os dois, envenenados pelo passado, numa noite encardida, onde a única luz provém do teu grito de renúncia.

sábado, 6 de março de 2010

ciclo (?)


Desejava o teu despertar... junto a mim. Desejava o teu odor...junto a mim. Desejava a tua voz...junto a mim. Desejava um beijo teu...em mim. És um enorme baralho de cartas impossível de descartar, és um vazio preenchido. És o flúido que me corre nas veias. Fazes-me sentir azeiteira, foleira, otária, uma mancha negra na puta desta vida. Voltas, e sais, voltas e sais, voltas, sais, (e nunca mais voltaste). Odeio-te por me pores a desabafar com a merda de um papel, odeio-te por fazeres com que te Ame desta forma suberba e irreal. Cansei-me das tuas inconstantes, do teu desleixo por mim, do teu calor ameno entre a chuva que me irritava solenemente. Sinto falta do teu sabor a pôr-do-sol de aguarelas de tons quentes, do teu andar controverso fugindo de aves que petiscavam nas calçadas das avenidas. Tenho saudades da tua (incostante) presença que se transformou num enorme tom cinzento entitulado de “saudade”. Sinto-me uma drogada ressacada por falta de seringas, graças ao facto de me ter viciado no efémero brilho dos teus olhos. Não tenho como satisfazer esta sede que tenho por ti, tu fugiste, foste embora, saíste, despediste-te, abandonaste-me...acabou. Eu Amei-te, Amava-te, questionei, despedi-me, Amo-te...continua (…).