O Bing Bang canta as badaladas da meia noite e o fogo de artifício enfeita o céu londrino. Consegue-se ouvir as gargalhadas da vizinhança que flutuam na neblina e o brinde das taças de champanhe que recebem o novo ano em grande.
A casa está vazia, as escadas não têm tapete vermelho e o serviço de louça francesa está arrumado no armário. A campainha não soa, o telemóvel encontra-se desligado e perdido no jardim. A mesa de jantar de vinte lugares foi posta apenas para um mero individuo. É incrível ver como a solidão se apoderou de tudo graças à minha excessiva desconfiança. Pensava que esconder-me do mundo fosse a melhor forma de me defender da dor. Estava inteiramente enganada. Só fiz com que a ferida se tornasse eterna e que o coração congelasse com falta do verbo amar. O silêncio é a única música de fundo unido aos meus passos despidos em direcção à janela onde me sento no parapeito paralelamente a esta mesma. Temi dirigir o olhar em direcção ao mundo exterior, mas tinha que o fazer. O queixo treme, os braços arrepiam-se e o passado ganha vida nas ruas de Londres.
Completo neste primeiro dia de Janeiro quarenta e quatro anos. Não recebi um presente, uma visita, um mero telefonema ou mensagem com a palavra “Parabéns” digitada. Ninguém me beijou, ninguém abraçou meu corpo abalado nem pegou na minha mão esguia. Desejava soprar as velas com um enorme sorriso esboçado no meu rosto cansado com os meus amigos de sempre ao meu redor. No entanto, até esses perdi. A amargura em que vivi ao longo destes vinte anos fez de mim uma página em branco sem qualquer momento para desvendar. Não possuo nenhum sentimento sobre alguém no meu interior. Apenas sinto a saudade do passado, de quem fui, de quem tive... A saudade rouba a vontade de viver, desvaloriza o tempo e leva-nos à loucura.
(...)
e mais, só no livro.
Está excelente, como todos os outros.
ResponderEliminarFantastico.
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