As paixões são loucas, pontuais e passageiras. A paixão é um desabafo da carência humana que necessita de um corpo humano entrelaçado ao nosso, de um beijo ameno que transmita que continuamos a ser desejados por alguém. O amor já não é assim. O amor é prudente, surpreendente, impontual e, sobretudo eterno. Por muitas paixões escaldantes que tenhamos ao longo da nossa vida, o seu conjunto não é suficiente para remover um amor que se prolongou para sempre. A verdadeira definição do amor encontra-se no fundo da irís nas pessoas que amamos e não em meras palavras que alguma personalidade como eu se lembrou de ditar para um vulgar papel em branco. Quando temos que repousar o nosso amor por circunstâncias que impeçam o contacto físico, a melhor hipótese é estabelecer um momento de pausa ao sentimento e jamais um ponto final ou uma narrativa aberta deprimindo por um desenlace. As paixões ocorrem com freqüência, e essas vão fazendo despertar os sentidos do coração, que adormecem durante longos meses com a tua ausência constante. No entanto és tu o fruto proibido, o mais apetecido. Todas as noites dou voltas e voltas na cama para ver se encontro vestígios do teu perfume nas minhas roupas ou duma simples recordação das tuas esmeraldas verdes a cintilarem com os raios do doce sol de verão. Passo horas a fio a pensar na nossa história e quando o sono por volta das quatro da madrugada chega, traz com ele pesadelos horrendos como o nosso último beijo na estação de comboio. Quem sofre é o corpo que já não suporta tanta ausência do verbo amar e vai degradando perante uma sociedade carregada de futilidades e tirania. A pele torna-se pálida, os olhos sombrios e pesados e os cabelos perdem todo o brilho e reflexo da amora. As saudades corroem o interior, mas o exterior não fica imune a esta doença obsessiva que insiste em perseguir a nossa mente para onde ela vá. Todo o ser que não aceita a saudade com naturalidade acabará por perder a sua beleza perante a sociedade. O ideal é ver a saudade como um presente num futuro próximo e esboçar um reencontro dos corpos que voltarão a cair no jardim molhado numa noite de lua cheia. O amor é de loucos, e a loucura é o amor.
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