sábado, 9 de maio de 2009

as viagens, os comboios e o tempo


Os minutos aguardando pelo comboio concedem-me recordações inalteráveis que o vento fez questão de guardar. Este tipo de ambientes sempre me deram a conhecer o meu mais temido interior. A parte de mim mais assustadora e inflamável. Está na hora de a minha voz se transformar em palavras do coração, está na hora da declaração que todo o mundo quer saber, um mundo que se resume a uma identidade: nós.
Foi há nove meses. A estação encontrava-se deserta, silenciosa, embalada pela suave brisa típica do litoral. Um comboio passou, e sempre que isto sucedia agarravas-me na cintura como se nunca desejasses a minha partida. Tornava-se num acto defensivo, e eu sabia que me protegias. Os beijos voavam ao som dos velozes comboios cujos não paravam ao nosso lado. Pois até estes não queriam que a distância nos levasse. Éramos dois jovens sem noção do tempo e da enfermidade duma paixão remota. Os ponteiros andavam nuns relógios, noutros os dígitos aumentavam o seu valor. E noutros relógios, o tempo repousava. Relógios onde existem também dois ponteiros, o do amor, e o da saudade. Quando o ponteiro das saudades adormece, o tempo acaba. Quando isso acontece, o trabalho do ponteiro do amor é manter a saudade a dormir pois, quando esta acorda, o relógio continua a trabalhar e o tempo a passar.
É o coração. O coração é o relógio que pára o tempo quando a saudade termina e os dois corpos colidem. Agora, aqui sem ti, o tempo continua, e eu só desejo um bilhete para qualquer sitio, para um comboio cujo destino seja longínquo daqui. Necessito duma viagem que me livre das memórias, de ti. Que me devolva a outra metade de mim, a minha liberdade e espírito aberto sem noção das horas, minutos e segundos. Despeço-me de ti amor louco, e se fosses uma história escrita em papel, já o teria rasgado há muito, muito tempo...

4 comentários:

  1. se o amor premanecesse apenas no papel já o teriamos rasgado não é? .. Pois.. mas ele permanece bem dentro de nós, daquilo que somos e que seremos. Mas temos k seguir e ir ao encontro de novos horizontes :)

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  2. E o que é k fazemos quando estamos a tentar ultrapassar um amor, esquece-lo(se é k isto é possivel) ... e depois voltamos a vê-lo.. voltamos a senti-lo bem cá no fundo..
    ?!

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  3. Lindo, escreves tão bem. Adoro visitar o teu blog. Gosto mesmo de ler as tuas palavras. Beijinhos Marta

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