segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O meu grande problema é partir em busca do desconhecido quando eu própria não me conheço




Um dia sai de casa com a mochila às costas, decidida em arrastar a minha alma comigo (ou o pouco que me restava dela...). Viajei até parar aqui, nestas paisagens de montanhas que crescem no céu limpo e sufocante, onde a única brisa que refresca a pele suada é o teu inexistente sussurar. Umas horas opto como fundo de viagem o silêncio das aves e dos insectos, ou então o som dos riachos que desaguam nas pedras ásperas e tiranas. Deixei criar em mim uma forte vontade de sentir as texturas da natureza, de permitir que o meu corpo caia sobre a relva dura e doirada pelo sol, de me sentar nos troncos robustos e irregulares que se precipitam no meio do meu caminho. Mergulho as pernas no rio do Mitó, algueres nestes montes cujo acesso é restrito a viaturas, com a intenção de atenuar as feridas e pisaduras duma caminhada que nem eu sei qual o seu destino, se a vida ou a morte, mas isso pouco importa agora (eu quero é viver)... Escrevo nestas folhas algo de instântaneo, sem reescrever ou aperfeiçoar as palavras que os dedos desenham duma forma natural e imperfeita. O importante agora é fazer com que este momento perdure, seja através das palavras de alguém demente como eu, quer nos pequenos desenhos que se despem de cor no meu caderno. Não é que a memória seja fraca e que se esqueça do cheiro a pinheiro e oliveira, mas o que eu estou sentindo agora não é o mesmo do que sentirei amanhã. Gosto das memórias, tanto que registo palavras que me tocaram neste mesmo caderno onde escrevo. Algumas dessas palavras fazem de mim alguém com características próprias na literatura e na arte, com a mente queimada pelas dúvidas filosóficas e com resultados académicos demasiado elevados para quem leva um estilo de vida irresponsável, desorganizado e degradante. Debato-me com estas opiniões, e quanto mais as leio menos sei quem sou. O meu grande problema é partir em busca do desconhecido quando eu própria não me conheço, e o resultado é sair daqui mais perdida do que o que cheguei, mais débil mental do que o já era... Procuro na mochila alguma substância que me retire a alma do corpo, para que o pensamento morra com a inalação de algo natural que é proíbido pelo governo... Pego agora nos papéis e num pedaço de cartão, e páro de escrever porque mãos só tenho duas, embora a força de viver seja incontável...

Até à próxima ausência,

natacha

3 comentários:

  1. ora, de nada. btw, escreves bastante bem.

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  2. Entrei por mero acaso e tinha que deixar um comentário, desejar que jamais te percas e sempre encontres o teu rumo, um rumo que te leve sempre na direcção do que sonhas e desejas.

    Bjs!

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